Não Amar nem Odiar
Arthur Schopenhauer
Se possível, não devemos alimentar animosidade contra ninguém, mas observar bem
e guardar na memória os procedimentos de cada pessoa, para então fixarmos o seu
valor, pelo menos naquilo que nos concerne, regulando, assim, a nossa conduta e
atitude em relação a ela, sempre convencidos da imutabilidade do carácter.
Esquecer qualquer traço ruim de uma pessoa é como jogar fora dinheiro
custosamente adquirido.
No entanto, se seguirmos o presente conselho, estaremos
a proteger-nos da confiabilidade e da amizade tolas.
Não amar, nem odiar, eis uma sentença que contém a metade da prudência do
mundo; nada dizer e em nada acreditar contém a outra metade.
Decerto, daremos
de bom grado as costas a um mundo que torna necessárias regras como estas e como
as seguintes.
Mostrar cólera e ódio nas palavras ou no semblante é inútil, perigoso,
imprudente, ridículo e comum.
Nunca se deve revelar cólera ou ódio a não ser por
atos; e estes podem ser praticados tanto mais perfeitamente quanto mais
perfeitamente tivermos evitado os primeiros.
Apenas animais de sangue frio são
venenosos.
Falar sem elevar a voz: essa antiga regra das gentes do mundo tem por alvo
deixar ao entendimento dos outros a tarefa de descobrir o que dissemos.
Ora, tal
entendimento é vagaroso, e, antes que termine, já nos fomos.
Por outro lado,
falar sem elevar a voz significa falar aos sentimentos, e então tudo se inverte.
Com maneiras polidas e tom amigável, pode-se falar grandes asneiras a muitas
pessoas sem perigo imediato.