16 de mar. de 2016

Um desabafo sobre a meritocracia, as manifestações de domingo e Lula na Casa Civil.


"FALAR É FÁCIL, DIFÍCIL É SE OLHAR NO ESPELHO" - EUZÉBIO,Padre (Rafael Sânzio)

Eu nasci numa família de extrema direita.

Todos nós (os 7 netos na época, hoje somos 10) fomos, desde o nascimento, alimentados com boa comida, leite em pó, complexos vitamínicos e remédios homeopáticos.
Nascemos com uma boa casa para morar, uma cama quente para dormir, todos tivemos babás, todos tivemos ensinos de extrema qualidade, todos tivemos referências religiosas, musicais, artísticas, e, salvo a minha humilde pessoa que vos fala, todos tiveram apoio familiar para estudar e se formar como indivíduo e cidadão.

Referências de caráter e índole não nos faltaram, nunca corremos riscos reais pois nossos pais sempre privaram pela segurança e pelo bem estar da família.

Dentro desse cenário, é um pouco infantil não assumir que o sucesso pessoal e profissional era um alvo óbvio a ser atingido, dependendo apenas, do esforço e dedicação de cada um para completar o que nossos pais nos proporcionaram.

Aí eu fico na dúvida: o sucesso atingido pelas pessoas da minha família se deve ao mérito individual ou à toda estrutura gerada pelos meus tios? (não me enquadro nessa porque ainda não obtive o sucesso que almejo, mas é questão de tempo).

E aí eu caio na manifestação de domingo.

Sim, vi inúmeros posts na minha timeline com fotos, dizeres e, que coisa, até o pedido de "Volta Ditadura" circulando por aí.

Meu avô foi um ativista dos direitos dos plantadores de cana de açúcar de Ponte Nova.
Lembro do meu velho Juquinha sentado nas tardes pós almoço escrevendo seus infinitos textos em papéis de ecocardiogramas usados, e, quando ele me pedia para revisá-los, eu via nitidamente todo o furor e emoção na luta pelo seu povo, sofrido, sem direitos, que ainda não tinham conseguido galgar qualquer reconhecimento e, lamentavelmente, até hoje vivem quase na base do trabalho escravo, sem opções, sem direitos, apenas com a "chance" de ganhar uma ninharia para sobreviver. E sim, ele foi perseguido pela Ditadura.

Minha mãe fez o curso de Direito na UFMG logo quando houve a transição da Ditadura para a Democracia (Tancredo Neves) e lembro-me dela chegando em casa esbaforida porque a UFMG havia sido invadida pelos militares em busca de revolucionários comunistas e ela teve que sair às pressas, não porque fosse uma comuna, mas sim, por ser uma jovem estudante de Direito que "poderia ser um perigo para a sociedade". Justo ela, a pessoa mais de Direita que eu já conheci na vida... Não sabiam de nada, inocentes.

Sei que vivi muito pouco sobre esse período negro da nossa História, mas tudo que visualizei, guardei no meu âmago e hoje, posso entender melhor os fatos.

Não consigo entender (e olha nem sou até razoavelmente inteligente!) como as pessoas ainda vão para as ruas em prol de uma sociedade exploratória, cujo lucro está acima de qualquer valor moral (e não me venham com o papo de que a foto da babá não tem nada a ver porque os patrões estavam dando uma oportunidade para ela, porra alguma, quero ver a filha/sobrinha/afilhada de alguém que estava lá protestando escolher a profissão de Babá se isso não vai dar merda e revolta dentro de casa) ainda apoiam políticos como Aécio Neves, Geraldo Alckimin, Eduardo Cunha, Bolsonaro e Malafaia ao invés de lutar por melhorias nas escolas, na saúde pública e pela reforma tributária e política.

Não consigo aceitar como "representantes do povo", homens que tem discurso racista, segregador, homofóbico, religioso opressor e por aí vai tem tantos seguidores, por Odin, não consigo entender mesmo!!!!

Sou mãe solteira, tatuada, empresária, esposa, espírita, e não quero e nem pretendo me enquadrar no estereótipo imposto pela sociedade (retrógrada e hipócrita). Sou aquela parte da família que carrega um "ovelha negra" tatuado na testa e, na boa, isso não me afeta há um bom tempo, pois sei dos meus valores, defendo o que acredito e eu olho adiante, muito mais do que para o meu próprio umbigo.

Mas dizem que o povo tem os governantes que merecem.
Depois os últimos acontecidos, tenho cada vez mais certeza disso.

Tento respeitar a opinião contrária às minhas, o que não quer dizer que vou acatá-las ou ficar calada, concordando com tudo, utilizando uma cara de paisagem. Me nego também a deixar de amar os meus familiares ou amigos por serem de Direita mas lamento que a visão deles seja tão egoísta e burguesa.
Não vale a pena.
Não vale....

Quanto à posse hoje do Lula como Ministro da Casa Civil, vou repetir algo que disse a um querido amigo mais cedo: " A minha ideologia foi deturpada pelo indivíduo e as minhas esperanças por um Brasil mais igualitário e justo a todos se encerraram hoje."

Sou esquerdista, não alienada.

Gostaria que pessoas como Maluf, que é procurado pela Interpol e teve sua prisão solicitada pela França fosse preso, e não, deputado federal.

Gostaria que o Zezé Perrela fosse preso pelo seu helicóptero com meia tonelada de pasta base cocaína, e não, senador.

Gostaria que o Eduardo Azeredo, cuja prisão também já foi decretada e sua culpa já comprovada pela Justiça fosse preso, e não, senador.

Não quero uma Justiça com dois pesos e duas medidas, mas sim, que todo sejam punidos de forma impecável para que sirva de exemplo a todos os outros que quiserem ferrar com o meu povo.

Sim, eu utilizo todos os serviços públicos possíveis.
Meu filho estudou nos últimos dois anos em escola pública estadual.
Faço meu tratamento de endometriose e de catarata em postos de saúde e hospitais públicos.
Meus remédios vem do posto de saúde e todo o meu tratamento tem suas morosidades, mas funciona quando eu cumpro com os prazos estipulados pelos médicos.
Outro dia meu filho se machucou, como não tenho dinheiro para arcar com planos de saúde caríssimos, que exploram a doença dos outros, corri com ele para o Pronto Socorro do João XXIII onde ele foi prontamente atendido, examinado e medicado.

Vi amigos comentando sobre pagar R$ 30,00 no KG da carne moída, sendo que eu compro todas as minhas carnes no mesmo bairro que a pessoa mora e pago R$ 14,00, realmente existem "preços" e preços, tudo depende de onde se busca o produto.

Sim, passo por dificuldades financeiras, estou devendo até as minhas calcinhas, seja para o banco, seja para o meu sogro lindo que amo tanto e que nos acode sempre, mas busco alternativas para melhorar a minha situação profissional e honrar os meus compromissos.

Mudei minha rotina de trabalho e hoje ralo em média 10 a 12 horas por dia, de segunda a sábado, isso quando não fico aqui das 9 da manhã até as duas da madrugada direto.
 
Abri mão de uma vida social, de uma vida familiar, e até de uma vida acadêmica em prol do meu objetivo atual. Se é justo eu não sei, mas o meu papel estou fazendo: luto por um futuro melhor, por uma economia melhor e por uma sociedade mais justa.

Tenho uma funcionária que recebe um salário digno com todos os benefícios que a lei exige, pago os tributos devidos e torço imensamente para que, cada vez mais, eu possa ser um instrumento do universo para o auxílio do crescimento de outras famílias através do seu trabalho na minha empresa.

E assim, rogo à Odin, Buda, Satanás, Baphomet, Moisés, A Grande Batata, JC e seus deuses pessoais que o nosso país seja lavado pelo tsunami da verdade, mas, que cada brasileiro aprenda a ser honesto, correto, que cumpra com os seus deveres como cidadão, que parem de roubar a internet e a tv a cabo do vizinho, que devolvam o troco a mais, que não soneguem impostos (sim, pago todos os que me são cobrados religiosamente) e que a conduta individual de cada um seja melhor do que o seu discurso no Facebook.

Boa noite.

Pandemia, escolas fechadas e Cloroquina

Depois de um longo período de isolamento, trabalho duro e reflexão, retomo as atividades do Blog da Kau com um desabafo. Senta que lá vem te...